COVID-19: estudo da USP comprova cientificamente a Hidroxicloroquina, Azitromicina e Colchicina
Isso era para estar na manchete de todos os jornais do país inteiro. Era para ter sido notícia no Jornal Nacional, com a bancada dando a notícia em ritmo de festa.
Saiu hoje. É um estudo da USP - Universidade de São Paulo, do Campus Ribeirão Preto. É randomizado, duplo cego e controlado por placebo. Isso é o “padrão ouro” da ciência. Foi revisado por pares e publicado na BMJ, que é uma revista médica “de impacto”.
Ou seja, seguiu com absolutamente toda a burocracia científica até o fim, até o último carimbo, último xerox de documentos e última firma reconhecida em cartório.
Hidroxicloroquina, Azitromicina e Colchicina. Envolvia pacientes hospitalizados. No total foram 72 enfermos envolvidos no estudo. Foram 36 no grupo placebo e 36 no grupo colchicina. Ambos os grupos receberam HCQ e AZ.
O estudo foi registrado em abril de 2020 no site do Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos com o seguinte título: “Estudo clínico sobre o tratamento da COVID-19 com Cloroquina e Colchicina”.
Ou seja, descobriram o que fazer para a hidroxicloroquina funcionar bem em pacientes graves.
O tempo médio de internação foi de 7 dias para o grupo tratamento e de 9 dias para o grupo controle. Ou seja, reduziu a ocupação dos hospitais, que estão lotados.
No dia dois, 67% do grupo tratamento, versus 86% do grupo controle, mantiveram a necessidade de oxigênio suplementar.
No dia sete, 9% dos pacientes do grupo tratamento precisavam de oxigênio enquanto 42% ainda precisavam deste suporte no grupo controle.
Ou seja, o cocktail reduz a necessidade de oxigênio, que tem faltado em todos os lugares.
Dois pacientes morreram no grupo placebo. No grupo tratamento não houve nenhuma fatalidade. Ou seja, o cocktail reduz mortes.
Isso era para estar nas manchetes de todos os jornais do país inteiro. Era para ter sido notícia no Jornal Nacional, com a bancada de jornalistas dando a notícia em ritmo de festa.
E já era, a partir do minuto seguinte da publicação, para ter se tornado o padrão de atendimento em todos os hospitais.
Na verdade, o pré-print disso foi publicado há uns quatro meses. Esse cocktail era para ter se tornado padrão de atendimento em todos os hospitais do Brasil naquele dia. Não era nem para esperar a publicação final.
Ou era para ter sido criada uma força tarefa de revisão por pares naquele instante, trabalhando 24 horas por dia, até a confirmação da qualidade do estudo. Levando, no máximo, uma semana. E enquanto a revisão ocorria, outra força tarefa, de distribuição de medicamentos, abasteceria todos hospitais, antes da recomendação final.
Entendem quando digo que está ocorrendo, neste momento, o maior apagão jornalístico da história, além do maior crime contra a humanidade desde a segunda guerra mundial?
E desta vez nem estou reclamando que estudos observacionais, que não são o “padrão ouro”, não se tornaram notícias nem se tornaram padrão de atendimento em todos os lugares.
Sim, um ou dois estudos observacionais, bem projetados, seriam mais que o suficiente para o mundo todo adotar os tratamentos para a pandemia.
Afinal, sempre foi assim na ciência médica, mas isso virou assunto tabu e campo de batalha de narrativas estúpidas exatamente quando o mundo tem pressa, agora, durante essa pandemia.
Mas desta vez estou falando do grau máximo, segundo os radicais, de evidência. É um RCT - Randomized Controlled Trial, revisado por pares, e publicado em uma revista de impacto.
"De fato é super bizarro o quanto ninguém tem o menor senso de urgência com esse tema. Por um lado, lockdowns duros em países inteiros, destruindo economias e a sanidade mental das pessoas para salvar mais vidas. Por outro, quando o assunto é tratamento, ninguém tem pressa", disse um professor da USP que não quis se identificar.
"O pessoal acadêmico se comporta como se a gente tivesse pesquisando física de partículas, algo que tanto faz ficar mais dois anos discutindo para entender melhor um detalhe, já que não tem aplicação prática nenhuma em um futuro próximo", complementou.
Para finalizar, repito: um crime contra a humanidade está ocorrendo exatamente agora. Além disso, um dos momentos mais obscuros da ciência, talvez apenas comparado com a idade média e suas fogueiras de cientistas, transcorre na frente de todos, enquanto o mundo está anestesiado, olhando para as paredes de seus confinamentos, ao mesmo tempo que médicos se recusam a tratar pacientes, parentes e amigos, os levando para a morte e achando, por algum motivo estúpido, que isso é sinalização de virtude.
Atualização em 8 de fevereiro
Hoje recebi uma mensagem inbox de Marco Faustino, funcionário da agência “Aos Fatos”, checadora de notícias. Ele me fez uma pergunta:
Você sustenta o que escreveu no texto publicado no site Mídia sem Máscara, ou seja, que o estudo da USP comprovou a eficácia da hidroxicloroquina e azitromicina?
Este foi o esclarecimento que respondi a eles:
1 - Não tive nenhum contato com nenhum representante deste site, o qual eu desconhecia. Eles copiaram o texto que escrevi.
2 - Não, não sustento que o estudo comprovou a eficácia da hidroxicloroquina e azitromicina, em conjunto ou sozinhas. O estudo não se propôs a dar essa resposta. O estudo se propôs a dar uma resposta sobre a eficácia científica de um cocktail de drogas que incluía hidroxicloroquina, azitromicina e colchicina (além de heparina), em pacientes hospitalizados. É isso que está no paper e é isso que escrevi.
3 - A comparação foi com o atendimento padrão, que incluía hidroxicloroquina, azitromicina e heparina.
4 - O estudo foi registrado em abril de 2020 no site do Registro Brasileiro de Ensaios Clínicos com o seguinte título: “Estudo clínico sobre o tratamento da COVID-19 com Cloroquina e Colchicina”.
5 - Ou seja, eles falaram que iriam estudar a cloroquina e colchicina, fizeram exatamente isso e tiveram sucesso. E aos cientistas dou meus parabéns.
6 - Ellen Guimarães, médica cardiologista e eletrofisiologista, ao ver uma polêmica se formando, fez este comentário: “As pessoas têm problema em entender o que é efeito add-on. A colchicina teve efeito add-on à terapia SOC. Usar sozinha alegando este estudo é extrapolação de dados. Agora, se quiserem utilizar outros estudos da colchicina isolada, daí é outra história! Nesse, é assim!”.
7 - Vale lembrar que recentemente circulou um estudo, ainda em pré-print, apenas da colchicina, em pacientes ambulatoriais. E apesar de uma quantidade grande de pacientes, o efeito foi modesto, não atingindo a significância estatística, que o estudo da USP chegou com poucos pacientes, por ter um efeito maior, que pode ter sido por causa do cocktail completo.
8 - Portanto, a interação medicamentosa não pode ser ignorada. A HCQ, por exemplo, tem propriedades anti-trombóticas. Este medicamento reduziu a trombose em 68% em pacientes com lúpus. É o que diz esse estudo de 2010. O tratamento com o medicamento pode, portanto, ter prevenido trombose causada pela COVID-19 nos pacientes do estudo.
9 - O site “Mídia sem Máscaras” alterou o título da matéria original na republicação deles. A original é: "COVID-19: estudo da USP comprova cientificamente a Hidroxicloroquina, Azitromicina e Colchicina". Não dei nenhuma autorização para o site para alterar o conteúdo. Retirar a colchicina do título pode ter sido um fator que confundiu o repórter.
E a agência aos fatos publicou sua nota
Mesmo com Marco Faustino dando a garantia que minhas respostas seriam postadas na nota (print abaixo), ele não cumpriu com sua palavra.
Vamos a mais esclarecimentos aqui. Consultado pela Agência “Aos Fatos”, Paulo Louzada, um dos autores do estudo, disse: “Não se pode afirmar que alguma delas [drogas], isoladamente ou em associação, inclusive a cloroquina, possa ser responsável pelos benefícios de redução do tempo de internação e de uso de oxigênio (benefícios encontrados no grupo que recebeu colchicina)”.
Exatamente. Eu não escrevi nada diferente disso. Houve uma “corrida” entre dois cocktails:
1 - Hidroxicloroquina, azitromicina, heparina e placebo
2 - Hidroxicloroquina, azitromicina, heparina e colchicina
O segundo cocktail “ganhou” a corrida. Portanto, o cocktail que possuía hidroxicloroquina, azitromicina e colchicina, venceu. O que foi exatamente o que eu escrevi.
Ou seja, como ele mesmo disse, “não se pode afirmar que alguma delas, isoladamente”, aponte benefícios. Portanto ele mesmo a firmou que o estudo não se referia apenas a colchicina. E isso é exatamente o que informei.
Afinal, se alguém deseja “apagar” a hidroxicloroquina da história, é necessário produzir um estudo apenas, única e exclusivamente, com colchicina, sem hidroxicloroquina e sem azitromicina.
BMJ confirma, no próprio resumo, que não se trata apenas da colchicina
A BMJ se refere a colchicina, neste estudo, como “terapia adjuvante”. Segundo as definições do Dicionário Oxford Languages, isso, em farmacologia, significa: “diz-se de ou medicamento que, ministrado com algum outro, ou adicionado à fórmula deste, lhe reforça a ação”.
Ou seja, não é aplicação sozinha, como “Aos fatos” dá a entender.
“Mídia sem máscara”, em sua resposta, aponta falha na apuração de maneira assertiva
“Não foram capazes de mencionar o título com que o estudo foi registrado no Brasil em abril de 2020: ‘Estudo clínico sobre o tratamento da COVID-19 com Cloroquina e Colchicina’. Só assim é possível dar a entender, como tentaram, que o teste nada tinha a ver com o uso da hidroxicloroquina”.
“Aos Fatos” não cumpre trabalho básico de repórteres e editores
Em 2006, no site “Observatório da Imprensa”, peça importante no debate nacional sobre o jornalismo, foi publicado um artigo sobre “A importância de ouvir os dois lados”.
“Ouvir os dois lados de uma história e mostrá-los aos leitores é o trabalho básico de repórteres e editores. Esta é a receita para se criar um jornal imparcial – para os leitores e para as instituições e pessoas que são tema das matérias, analisa o ombudsman do New York Times, Byron Calame”, explicava o artigo.
Minha conclusão
A agência “Aos Fatos” presta um desserviço para o jornalismo, para a lógica, e para a liberdade de imprensa. O repórter, Marco Faustino, saiu com uma teoria pronta do “aquário”, e de modo amador, resolveu implementá-la, custe o que custar, ofendendo e difamando. Além disso, não soube interpretar o que um dos próprios autores do estudo disse.
Tentei sugerir um pauta, o repórter não respondeu
Uma gafe monumental foi publicada na Folha de S. Paulo. Está aqui no meu blog. “Aos fatos”, aposto, é incapaz de escrever sobre isso. Nem querem ouvir.
Fim do jogo: um dos autores do estudo afirma que não é fake news
Atualização em 9 de fevereiro. Um dos autores do estudo, Rodrigo Luppino Assad, leu a notícia e fez o seguinte comentário no Twitter: “As interpretações colocadas podem ser aceitas".
Ou seja, é exatamente tudo que falei. É um cocktail testado. Não medicamentos isolados.
Não foi, portanto, uma notícia errada ou desinformação, como “Aos fatos” e outra agência de checagem, a Lupa, deu a entender.
Professor Paolo Zanotto, muito bem lembrado! Filipe Rafaelli, Parabéns pelo texto e a informação correta! Os genocidas são os médicos que impedem o tratamento e os políticos negacionistas do tratamento precoce, estamos assistindo uma tragédia na humanidade e com o coluio da mídia, uma coisa demoníaca
Filipe, muito obrigado pelo teu trabalho!
O artigo está muito bom e não é retocável. Não há nenhum problema para entender o que foi o estudo e o seu resultado a partir do teu artigo. As tuas perguntas estão perfeitas e são exatamente as que eu faço automaticamente.
Li a publicação da pesquisa e o registro da pesquisa. Fiquei com uma dúvida a mais. Por quê eles publicaram o estudo com nome diferente do registrado (omitiram os demais componentes que faziam parte do protocolo padrão)?! Parece que a guerra política continuou aí.
Mais uma vez, muito obrigado!