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Avatar de Tania Cristina Masiero

Sensacional! Gostaria que todos lessem até o final, mas a grande maioria que realmente precisa ler, tem preguiça. Espero que mais vozes de peso se levantem e que a verdade venha a tona. Parabéns!

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Avatar de Luciano Neves de Medeiros

Caros,

Este texto vem após breve discussão com Filipe e ele me convencer a escrevê-lo.

Não pretendo abordar interesses dos mais diversos, vou escrever sobre ciência e pontuar considerações nesse sentido.

Antes ainda do texto alguns apontamentos que podem ser breve:

1) Artigos científicos não são um bicho de sete cabeças, mas não são de domínio público, diferem em forma e objetivo de artigos encontrados em revistas do dia a dia, sobre isso recomendo este vídeo que situa quem não está familiarizado com artigos e revistas científicas e seus nuances (https://youtu.be/w2Sbh7xHHoo).

2) Sobre insulina, ela foi descrita para uso farmacêutico na década de 20 do século passado e RCTs são da década de 40, daí não encontrar RCT (https://pt.wikipedia.org/wiki/Insulina).

3) Sobre AZT ou Zidovudina, ela foi sim testada com ensaio RCT (https://pt.wikipedia.org/wiki/Zidovudina)

4) O foco da discussão será HCQ ou HCQ+Azi para tratamento precoce, sendo precoce pacientes com 5 ou 6 dias no máximo de sintomas. Outras situações quando abordadas serão de forma pontual.

5) Eventuais erros gramaticais devem ser perdoados, este texto não passará por nenhum revisor.

6) Este texto reflete minha visão sobre o tema sem pretensão de ser um farol ou bússola que aponta o caminha da verdade.

Como HCQ, assim como CQ e ivermectina, entrou para lista de possíveis candidatos para tratamento de COVID-19? Hoje em dia, qualquer teste para descobrir medicamentos contra agentes microbianos ou mesmo doenças no geral se inicia com microtestes “in vitro” de forma automática, permitindo o teste de centenas de substancias de uma vez só. HCQ sempre está presente em determinadas listas de drogas, ainda mais que já teve sua ação antiviral descrita.

Dessa forma, natural que fosse escolhida para seguir com mais testes após resultado positivo para ação antiviral contra COVID-19. A urgência da pandemia provocou uma aceleração e até pulo de etapas que talvez direcionassem o uso correto do medicamento sem tantos conflitos, como ocorre hoje. Cabe lembrar que ensaios "in vitro" são os mais básicos e servem a princípio como critério de exclusão, são testes que não tem a complexidade do organismo vivo, somente uma mimetização da ação local da droga. Por conta da urgência, o salto foi de microensaio simples para ensaio em pacientes, uma vez que a droga já é usada na clínica para tratar outras enfermidades, e isso gera uma falta de dados e questionamentos, a ponto de agora falarem em nebulização usando uma formulação de uso oral.

Desde de julho/agosto de 2020 não há recomendação da OMS para uso de HCQ em nenhuma circunstância, e por que? Em agosto de 2020 não havia um protocolo que de forma clara e reproduzida por vários grupos apontassem para algo consistente. Os testes continuam até hoje (abril/2021) e tudo pode mudar, mas hoje acredito que seguir a orientação é o melhor a se fazer. Veja, essa orientação da OMS não foi algo decidido por uma ou duas cabeças, vem de discussões dos departamentos de saúde de diversos países e cientistas reconhecidos de todo o mundo.

Neste ponto vou visitar o texto do Filipe, refletir e tentar explicar porque aqueles trabalhos citados provavelmente impactaram pouco as recomendações da OMS. E lembrando, o Filipe foca em seu texto o tratamento com HCQ no início da infecção de forma precoce.

A avaliação feita logo no começo do texto do Filipe no: COMO INICIOU A PROPOSTA DA HCQ COMO TRATAMENTO DA DOENÇA, ele cita o médico e cientista francês Raoult e o trabalho dele com HCQ. Este primeiro trabalho nada mais é que um estudo Chinês "in vitro" de pouco mais de um página (DOI: 10.5582/bst.2020.01047) que serve de base para o trabalho de Raoult (falaremos do trabalho de Raoult mais a frente). Raoult possui milhares de trabalhos científicos publicados e não estou aqui desacreditando ele, só expondo os fatos.

Ele segue o texto pelo caso anedotico (?), acredito que seria caso com baixo embasamento científico considerando o número pequeno de participantes (6) e segue uma discussão sobre padrão ouro, RCT e publicação científica e vou comentar abaixo sobre esses pontos.

Revistas científicas existem várias e elas possuem vários problemas, porém elas tem uma lógica que fica difícil impedir a divulgação de um dado científico, são dezenas de milhares de revistas, talvez o trabalho não seja aceito na revista que acredita ser melhor mas contendo dados relevantes e inéditos serão aceitos em alguma revista. Eu mesmo já tive artigo científico recusado por uma revista e aceito por outra, faz parte.

Revista científicas são depósito de trabalhos científicos. Podem ou não ser agrupados por temas como Lancenet ou gerais como a Science. Existe, é verdade, uma graduação de mais relevante para menos relevante, porém revistas científicas para publicação observam-se aos milhares. O modelo é em 99% dos casos igual. Um trabalho científico é enviado para uma revista. Um ou mais editores desta revista vão ler e decidir se a revista tem interesse um publicar o trabalho. Se a revista disser que não tem o trabalho é recusado ou se a revista disser que tem interesse aí vai para avaliação de pares, no mínimo 2 especialistas da áreas do trabalho que vão avaliar o trabalho de forma geral, método, relevância, resultados, incluindo estatística, conclusão, se falta algo para o trabalho concluir o que concluiu, podendo inclusive os revisores recusarem os trabalhos, pedirem um revisão e nova avaliação ou aprovação do trabalho científico.

RCT possuem um peso grande quando chegam a uma conclusão, eles são o resultado de um processo de construção das formas de avaliação da ação de drogas que vem sendo a mais de 70 anos aprimoradas. As vantagens do RCT podem ser enumeradas e logo de início observa-se a retirada da mão do cientista/médico o poder de escolher quem vai receber a droga e quem vai receber o placebo, trata como iguais ambos os grupos, acompanhando suas evoluções. Isso difere de testes observacionais, não que este último não possa ser feito, e em alguns casos não há outra forma, e isto está claro para todos os envolvidos.

O médico escolher os tratados com medicamentos, levando-se em consideração os interesses inclusive econômicos, diminui seu peso. Outro fator aqui é o grupo placebo que quando existente não é acompanhado com a proximidade como o grupo tratado com medicamento, sempre se referindo a um banco de dados gerais ou resultados obtidos em outro hospital, isso também prejudica a avaliação do trabalho, como salientado nos trabalhos que usam este tipo de teste.

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